O número de idosos aumentou consideravelmente nas ultimas décadas no Brasil, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2000 a 2023, a proporção de idosos (60 anos ou mais) na população brasileira quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%. Diante deste cenário, se faz necessário e de extrema relevância entender as mudanças cognitivas no processo de envelhecimento e o quanto as perdas, neste sentido, referem-se a declínios nas habilidades mentais dos idosos, como memória, atenção, linguagem e capacidade de resolver problemas. Elas podem variar de leves a graves e podem ser causadas por uma série de fatores, como mudanças normais associadas ao envelhecimento, condições de saúde ou doenças neurodegenerativas. A preocupação com o aumento da expectativa de vida está associada a um dos principais quadros observados em idosos, os Transtornos Neurocognitivos Maiores (TNM), conhecido como demências.

A forma mais comum de demência é a Doença de Alzheimer, caracterizada pela perda progressiva da memória e de outras funções cognitivas, ocorre principalmente entre pessoas acima dos 65 anos e representa, aproximadamente, 65% dos casos. Demência Vascular, que é também uma das causas mais comuns de declínio cognitivo em idosos, após a doença de Alzheimer, é causada por problemas nos vasos sanguíneos do cérebro, como um acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo, que pode afetar a circulação e levar à morte de células cerebrais. Demência com Corpos de Lewy, uma forma de demência que compartilha características com a Doença de Alzheimer e a Doença de Parkinson, causada pelo acúmulo de depósitos anormais de proteína chamada alfa-sinucleína no cérebro. Falando em Parkinson, este se caracteriza por ser um distúrbio do movimento que, em alguns casos, pode levar ao desenvolvimento de demência, conhecida como Demência associada ao Parkinson, a perda de células nervosas produtivas de dopamina no cérebro pode afetar áreas responsáveis pela cognição. Demência Frontotemporal (DFT), um grupo de demências caracterizadas pela degeneração das áreas frontal e temporal do cérebro. A DFT tende a afetar pessoas mais jovens (geralmente entre 40 e 60 anos), geralmente causam mudanças comportamentais, como: desinibição, falta de empatia, compulsões, dificuldades de fala e linguagem e problemas no julgamento e na tomada de decisões. Além destas que eu citei,  há outros tipos de demências, como Demência Mista, pós traumática, associada a HIV, demências devido a doenças infecciosas ou induzidas pelo uso de substâncias químicas. Não posso deixar de citar também o Transtorno da Depressão entre a população idosa, que também podem resultar em perdas cognitivas semelhantes aos da demência. Em 2070, cerca de 37,8% dos habitantes do país serão idosos e de acordo com o projeto Global Burden of Disease – Carga Global de Doença (GBD), estima-se que havia 1,8 milhão de brasileiros vivendo com demência em 2019, com projeções para atingir 5,7 milhões em 2050, um aumento de 206%.

Cada tipo de demência apresenta características únicas, mas todas afetam de forma significativa as funções cognitivas e o comportamento das pessoas. Apesar de seu impacto sobre indivíduos, familiares e sociedade, a demência é pouco conhecida pelo público em geral e até mesmo pelos profissionais de saúde, o que contribui para a falta de diagnóstico e tratamento oportunos e quando o diagnóstico ocorre, geralmente são muitos anos após seu início ocasionando perdas significativas na vida destas pessoas.

Em resumo, chamo a atenção para que, embora o envelhecimento traga algumas mudanças cognitivas, a detecção precoce de problemas mais graves e a adoção de estratégias de prevenção podem ajudar a melhorar a qualidade de vida dos idosos e retardar o progresso das perdas cognitivas. A avaliação Neuropsicológica muito contribui para detecção do diagnóstico, intervenções farmacológicas, terapia ocupacional, musicoterapia, estimulação cognitiva e constância de exercícios físicos, estão entre alguns dos principais fatores que auxiliam o tratamento e alterações comportamentais nas demências e nos diferentes níveis de gravidade. O diagnóstico precoce é fundamental para as estratégias de manejo e uma vida menos sofrida.

 Psicóloga e Neuropsicóloga Mara Plati.

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